OS PRETINHOS DO BOCA JUNIORS
Socorro, hermanos e escribas argentinos, Juan Diego Incardona e Léon Pereira. Ajudem seu amigo brazuca: Pelas calles de Villa Celina, Flores, pelos encontos del barrio de Constitución , em meio ao movimento de la Plaza Itália, existem pibes a desfilar, fagueiros com a camisa do Corinthians? São Paulo, Santos, Flamengo?
Na Rua Rosália de Castro, Vila Campestre, São Paulo, capital, tem um grupo de seis garotos que batem bola todos os dias de pés no chão, camisas do Real Madrid, Barcelona, Borússia Dortmund (hã?). Levam as costas nomes como: Messi, Modric, Lewandowski e Bale. Disputas áridas e animadas, dois contra dois, três contra três. Quando o lance é sério, os dois times envergam a camisa da seleção argentina e dá-lhe disputa:
– Como é que é molecada? Que negócio é esse? Que camisa é essa? Andam bebendo água de bidê?
– Se liga, tiu. A gente nem torce pela seleção brasileira, não. A gente torce pra Argentina.
Foram tão enfáticos que nem me interessou saber por quê.
De uns meses pra cá, a coisa ficou pior. Vi um pretinho com o uniforme completo + chuteiras, do Boca Juniors. Um lindo uniforme em azul com detalhes em amarelo. Vi dois pretinhos com o uniforme do Boca. Três. Dez. Vinte e cinco. A Vila Campestre anda tomada por pretinhos usando o uniforme completo do Boca Juniors. E a pergunta que fica: que porra é essa?
Heleno de Freitas , Domingos da Guia , Charles, Baiano, Iarley, Luis Alberto foram brasileiros, uns mais uns menos craques e pretinhos que jogaram pelo clube portenho sem grande destaque e por pouco tempo. Alguns sofreram direta ou indiretamente com racismo. Só o são–paulino Silas brilhou por lá com a camisa do São Lorenzo de Almagro.
Encontrei a resposta quando colei num desses meninos uniformizados (gozado: onde ele aprendeu a falar o português?) e descobri que encravada na Vila Campestre, Rua das Grumixamas, 990, existe uma escolinha oficial do Boca Juniors.
Tenho amigos adultos que torcem pela Argentina. Eu mesmo tenho uma camisa do Estudiantes De La Plata e da seleção por causa do Verón, mas ando cabreiro com a nossa identidade da bola. Será que só o bestalhão deslumbrado do Neymar não é suficiente pra alimentar nosso velho orgulho e nossa velha paixão pelos craques brazucas?
Juan Diego Incardona, Léon Pereira: existem Escolinhas de Futebol do Corinthians, do São Paulo, Santos ou Flamengo em Buenos Aires?
São Paulo, 12/03/2018